segunda-feira, 26 de abril de 2010

Denuncia


Uma garota morreu. Ela era maior de idade, mas ainda estava naquela faixa em que se consideram mulheres garotas (flor da idade). Morreu de morte morrida e morte matada. Mas quem a matou?
Segundo consta o obituário e a real versão dos fatos (real é porque algum rei deve ter aprovado, só por isso), ela caiu e não conseguiu mais levantar. A culpa foi toda dela, pois foi ela que caiu e foi ela que "decidiu" ficar fraca e não levantar. Se pensarmos por essa ótica, foi um suicidio a longo prazo, premeditado.
Mas é aqui que entra a denúncia: não ela não se matou. Quem a matou fui eu, foi você, fomos nós. E principalmente, quem a matou foi quem a conhecia mais de perto. Foram os pais que exigiam da garota tanto quanto a vida sem a proteção deles exigiria. Foi o irmão, cumplice e propagador da sociedade, sempre incentivando o cultivo da beleza exterior. Foi a irmã, na rivalidade amorosa que essa condição impõe.
Eles e nós a matamos, por aceitarmos impassiveis que ela se fartasse da sua dose diária de insatisfação.
Ela sempre foi muito bonita e por isso dá pena pensar que a matamos. Mais pena ainda teve o círculo mais próximo dela, pois sabiam que a maior beleza dela não se media por balanças ou fita-métricas....

2 comentários:

  1. Ah.... normal...
    todos os dias milhões de pessoas morrem por mãos da sociedade.
    Se o lema animal é "temos que voltar vivo para casa". O lema humano seria "temos que voltar COMO para casa".

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  2. Muito bom.. e ficou a dica.... pior q a vida é assim, né? em geral as pessoas não percebem...

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